O Desporto

Como todo o aluno Salesiano, além da formação académica e religiosa foi-me dado também o provérbio ”Alma sã em Corpo são”. Do futebol já vos dei conta mas não resisto a contar um episódio que demonstra bem a fragilidade de miúdo tão carente, na data dos factos deveria ter 11, 12 anos.
Um aluno mais velho - que me perdoe mas não lhe recordo o nome, só a figura - tinha umas chuteiras mais que velhas (vendo bem era só a do pé esquerdo porque a do direito estava pronta a ir para o lixo) não com pitões como as de agora mas com travessas de sola e eu como era canhoto a jogar à bola fui o herdeiro daquela chuteira toda rota mas que calçada no meu pé me fazia acreditar que até tinha jeito para dar uns chutos. E era ver-me correr atrás da bola meio a mancar porque o outro pé ou ia descalço ou com uma sapatilha barata e porque a chuteira era dois ou três números acima do necessário.
Os primeiros contactos com o basket - jogo muito querido de toda a Família Salesiana - que numa fase posterior me levou vestir o equipamento dos juvenis do BPM e uns anos depois me levou à glória numa final interturmas do Liceu de Gaia (ver outras estórias do liceu alguns capítulos à frente) com o resultado final de 99-86 tendo eu apontado cerca de 40 pontos para a minha equipe, o lendário F7F.
Nunca fui um atleta de eleição, mas cultivei toda a vida - pelo menos até aos quarenta e tal - o gosto pela actividade física e fui praticando os mais diversos desportos, não pela corrida às medalhas mas pelo puro prazer de competição, da camaradagem, do esforço físico e também, por que não dizê-lo pelo prazer do duche reconfortante depois do suor.
Umas linhas atrás falei-vos da natação, do futebol, do basket, mas também fui experimentando o ténis, o badmington, a bicicleta, o futsal.
A última “ modalidade” foi o bodybord, vício apanhado na minha primeira viagem ao Brasil, onde comprei a minha primeira e única prancha (uma Speedo) que guardo ainda hoje com a promessa, sempre adiada, de metê-la brevemente no mar. E era ver-me, fato de borracha, prancha amarela debaixo do braço, barbatanas na mão, a olhar o mar à procura do melhor sítio para entrar, com chuva, frio, vento, sol, não interessava.
E eram uma, duas, três horas dentro de água sempre à espera da melhor onda, a cabeça toda concentrada ali, bloqueando todos os problemas, todas as chatices. E depois era ver a onda crescer à minha frente, por vezes medonha, pesada, e virar-lhe as costas, pôr a prancha de feição e sentir a força que me empurra, me arrasta, primeiro numa crista que me eleva, depois uma rampa que se inquilina para acabar num turbilhão de espuma. E grito de alegria, de satisfação, por ter enfrentado uma força tamanha e ter “sobrevivido”.