Interfácio III

Este Interfácio bem poderia começar com :- 03/11/2004, Querido Diário..., pois trata-se mais de uma introspecção, de um registo de pensamentos, do que uma narrativa pura e simples de factos passados.
Hoje recebi como prenda de anos uma caixa com 4 dvd da série televisiva Eu, Cláudio, que passou nos nossos écrans há já uma porrada de anos, oferecida pelos meus colegas e amigas do escritório.
Tinha-a namorado na Fnac, aconchegando-a na prateleira, afagando-a com as mãos e pensando que seria daquelas coisas que gostaria de receber no meu aniversário ou no Natal que se avizinha. Fiquei tão entusiasmado que confessei, junto de ouvidos atentos, que iria pedi-la aos meus filhos e antecipando que, quando chegasse a altura, daria uma ajuda, se necessário, para eles me satisfazerem tal desejo.
Neste fim de tarde, depois de ouvir os “Parabéns a você” cantados por gargantas mais ou menos afinadas, recebo nas mãos a prenda dos amigos. Nem reparei no saco plástico branco e amarelo esquisito onde se poderia ler em letras bem visíveis Fnac, concentrando a minha atenção no embrulho que vinha dentro. Rectangular, com um breve apalpão senti os contornos do que prenunciava ser uma caixa que, no seu interior, albergaria ou uma brincadeira, ou uma futilidade ou na melhor das hipóteses umas cuecas de marca.
A surpresa apanhou-me desprevenido, não sei se consegui disfarçar o espanto, mas a alegria no meu coração foi imensa, não só pela prenda em si mas por realizar que as pessoas que me cercam dão ouvidos às minhas conversas ou aos meus desabafos, aproveitando a primeira oportunidade para demonstrarem o afecto e carinho que sentem pela minha pessoa.
A elas o meu Bem Haja por terem transformado este outrora desiludido proprietário de um kit de mini-golf, num orgulhoso proprietário do Eu, Cláudio e merecedor da sua Amizade.
Estes pensamentos levam-me mais longe e indicam-me uma solução para um problema que me surgiu esta semana. Tinha, desde as primeiras linhas destas crónicas, pensado em intitular este humilde ensaio com um “ Tem valido a pena!” mas saiu ou vai sair um livro sobre a vida do professor Moniz Pereira, escrito pelo
jornalista da TSF Fernando Correia, que se chama Valeu a Pena !
É uma coincidência mas por respeito e apreço às pessoas em questão vou mudar o meu título para Eu, Silvério, por inspiração óbvia mas também por direito. Afinal sou eu nu e cru que se estende aos vossos olhos nestas páginas.
Aproveito para confessar que a preguiça e a falta de inspiração, contornadas por um ou outro facto relevante como o de hoje, têm dado um fraco contributo para a conclusão desta tarefa que se adivinha longa, levando-me a ponderar editar um “ Volume 1”, depois de uma revisão e correcção do que já está escrito, na esperança que o seu sucesso entre os meus queridos amigos e leitores espevite a sua curiosidade pelos próximos capítulos e me force a escrever com mais assiduidade e celeridade.

PS. Mal eu sabia que, algum tempo depois, uma alternadeira viria a escrever um livro de memórias com um título parecido.